domingo, 28 de abril de 2013

Projeto "Menina Bonita do Laço de Fita"


PLANO DE AÇÃO


“MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA”:


Ações afirmativas para o fortalecimento da identidade da criança  na educação infantil



“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar podem ser ensinadas a amar!”


NELSON MANDELA


INTRODUÇÃO
A educação é um dos principais agentes de transformação de qualquer sociedade. Com esse pensamento inicia-se um novo paradigma educacional: uma escola na qual todos aprendem a conhecer e a valorizar a diversidade.
Partindo da premissa de que nenhum segmento da sociedade está isento de racismo, inclusive no ambiente escolar e acreditando que é função da escola formar cidadãos conscientes de seus papéis em sociedade, faz-se necessário a implantação de um Plano de Ação que sedimente e valorize a identidade das crianças na Educação Infantil.
Segundo o Referencial Curricular (1998), o desenvolvimento da identidade está intimamente relacionado com os processos de socialização. A partir do momento que essa criança está inserida num contexto social ela se vê através do outro.
Na Educação Infantil a criança tem o seu primeiro contanto com o mundo da “socialização”. Elas conhecem, descobrem novos sentimentos, valores, costumes e papéis sociais. Enfim, nada como um trabalho de valorização da identidade e da diversidade nesse segmento, para que possamos encontrar, no futuro, cidadãos cognoscentes.
 Como afirma Cavalleiro (1998):

Numa sociedade dialética homem/sociedade, o novo membro da sociedade interioriza um mundo já posto, que lhe é apresentado com uma configuração já definida, construída anteriormente à sua existência. Assim, interagindo com os outros, a criança aprenderá atitudes, opiniões, valores a respeito da sociedade ampla e, mais especificamente, do espaço de inserção de seu grupo social. (p. 16)


                            A interface racismo e educação oferecem possibilidade de colocar no mesmo palco a importância de duas temáticas: a função social da escola e a diversidade cultural.      


JUSTIFICATIVA

Esse Plano de Ação justifica-se pelo fato de ser a Educação Infantil, o primeiro contato, real, da criança com o mundo. Estão em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social. Internalizam o discurso alheio, já que nessa faixa etária, do ponto de vista do juízo moral de Jean Piaget, a criança encontra-se na fase denominada heteronomia.
Fazzi (2004) afirma que as pesquisas vêem mostrando, de modo recorrente, que, em torno, aproximadamente, dos 4-5 anos as crianças já desenvolveram algum tipo de conceituação ou identificação racial.
A identidade é um conceito do qual faz parte a ideia de distinção, de uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir e de pensar e da história pessoal.
Abramowicz e Oliveira (2012) consideram criança e infância a partir daquilo que as diferencia. Isso quer dizer que, nos processos e práticas sociais que incidem e constituem as crianças, desde o inicio, há o recorte de gênero/sexualidade, etnia, raça e classe social produzindo diferenças.
As pesquisas sobre relações raciais que abordaram a questão da criança negra no espaço escolar em sua grande maioria apresentam-na com problemas de relacionamento com seus colegas e professores ocasionados pela cor, gerando uma relação conflituosa e, muitas vezes, nociva para aqueles que acabam sendo rejeitados por seus atributos físicos. Mesmo na faixa etária a partir de 4 anos de idade, as pesquisas na área de educação infantil já apontam a existência da problemática racial entre crianças e adultos.
A escola é responsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem relações com crianças de diversificadas famílias, o que favorece a construção da identidade da criança.
Dependendo da maneira como é tratada a questão da diversidade, a escola pode auxiliar as crianças a valorizarem suas características étnicas e culturais, ou pelo contrário, favorecer a discriminação quando é conivente como preconceitos.


OBJETIVOS

O racismo consiste na discriminação de pessoas, baseado em características fenotípicas, justificando a superioridade de uma raça sobre a outra.
Com o objetivo de entender, valorizar e fortalecer a identidade da criança na Educação Infantil torna-se necessário a implantação de um Plano de Ação para planejar atividades específicas que tratem a diversidade como algo inerente às relações sociais.
Promover uma educação ética, voltada para o respeito e convívio harmônico com a diversidade deve-se partir de temáticas significativas propiciando condições desde a mais tenra idade, para que as crianças tomem consciência de suas próprias raízes.
Propor atividades escolares visando trabalhar o preconceito racial através do conhecimento e valorização da cultura dos negros e afros descendentes, fortalecendo, assim, a identidade das crianças.
O cotidiano escolar deve ser local de igualdade, de respeito às diferenças, pois como afirma Freire (2006): [...] “a educação é uma forma de intervenção no mundo”.




DESENVOLVIMENTO

A educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, então por que não começar nessa fase o trabalho com a problemática racial no cotidiano escolar?
Esse Plano de Ação terá uma duração de dois meses.






CRONOGRAMA

                   
ATIVIDADES


QUEM

QUANTO TEMPO
Contação e exibição do vídeo da história: “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado.

Professora
A cada 15 dias.
Durante 2 meses. (A cada contação, será feita uma atividade diferenciada)
Exibição do vídeo do poema “Diversidade” de Tatiana Belynki e do vídeo: “Tudo bem ser diferente” de Todd Parr.

Professora
Uma vez por semana, durante 4 semanas, alternando entre um e outro, nas acolhidas.
Apresentação de teatro de fantoches com a história: “Menina bonita do laço de fita”, de Ana Maria Machado.

Professora e alunos
Apenas uma vez.
Após a apresentação, ler novamente a história.
Roda de história. Contação de uma lenda retirada do livro: Mãe África, de Celso Sisto. Associada à atividade de sala.

Professora

Duas vezes por semana.
Durante 2 meses
Apresentação e explicação do jogo de tabuleiro conhecido como Mancala ou Kallah, muito importante na África.

Professoras e alunos

Uma vez por semana.
Durante 2 meses
Exibição dos trabalhos de Cândido Portinari: “Menina com tranças e laços”. Fazendo uma analogia com a história de Ana Maria Machado.


Professora e alunos

Uma vez por mês.
Durante 2 meses.

Cineminha na escola. Exibição do filme: A Princesa e o Sapo, da Disney.

Professora e alunos

Uma vez por mês.
Roda de conversa e exibição do curta da Pixar: “Convivência”.

Professora e alunos

Uma vez, para finalizar o Plano de Ação.


Considerações finais

Os primeiros anos da infância são fundamentais para a formação intelectual, afetiva e social do ser humano. Através desse primeiro contato com o mundo que a criança faz-se sujeito ativo, interagindo e transformando o meio na qual está inserida.
A Constituição Federal atribuiu à educação infantil atuação especial e estratégica na satisfação dos conteúdos básicos de aprendizagem, nomeadamente valores e atitudes, ao lado de conhecimentos e habilidades.
Pude concluir que as crianças pequenas já passaram por processos de subjetivação que as levaram a concepções já tão arraigadas no nosso imaginário e na realidade social sobre o branco e o negro e, consequentemente, sobre as positividades e negatividades atribuídas a um ou outro grupo racial.
Cavalleiro (1998) afirma que crianças em idade pré-escolar já interiorizam ideias preconceituosas que incluem a cor da pele como elemento definidor de qualidades pessoais
É função do educador fazer frente a essas concepções valorizando a diversidade cultural. A natureza da Educação Infantil e o princípio da autonomia assegurado pela Constituição e pela LDB tornam especialmente desafiadora a tarefa de promover a igualdade na educação.

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REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana de. As relações étinico-raciais e a sociologia da infância no Brasil: alguns aportes. BENTO, Maria Aparecida Silva (org). Educação Infantil, igualdade racial e diversidade: aspectos políticos, jurídicos, conceituais. São Paulo: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, 2012, pp. 47-64.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. V. 2.
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. 1998. 240f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.
CENCIANI, Daniela Xavier. Relações entre o cotidiano escolar da educação infantil e a problemática racial brasileira. Revista África e Africanidades. , ano 1, n. 3, nov. 2008.
DEMO, Pedro.  Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 1999.
FAZZI, R. C. Preconceito racial na infância. Tese de doutorado Rio de Janeiro: Departamento de Sociologia, Instituto Universitáriode Pesquisas do Rio de Janeiro, 2000.

FRANÇA, Luiz Fernando de. Desconstrução dos estereótipos negativos do negro em Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, e em O menino marrom, de Ziraldo. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº. 31. Brasília, janeiro-junho de 2008, pp 111-127.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. 33. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico. 7. ed. São Paulo: Atlas. 2010.
LEITE, Luciane Andréia Ribeiro. Era uma vez uma menina muito bonita. Uma prática pedagógica relacionada com a questão racial em uma turma de alfabetização. Disponível em: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo6/etnico_raciais/era_uma_vez_uma_menina_muito_bonita.pdf. Acesse em: 29 ago. 2012.
LIMA, Thaísa de Oliveira. Menina bonita: O preconceito com crianças negras na educação infantil. 2009. Disponível em: revistas.jatai.ufg.br/index.php/acp/article/view/919/478. Acesso em: 29 ago. 2012.
GELMI, Gisele. Projeto Consciência Negra: Educação não tem cor. 2008. Disponível em: http://www.veracruz.sp.gov.br/consciencia%20negra.pdf. Acesso em: 29 ago. 2012.
MACHADO, Ana Maria; Menina bonita do laço de fita. Ilustrações Claudius. - 8ª ed. – São Paulo: Ática, 2010.
SANTOS, Izequias Estevam dos. Manual de Métodos e Técnicas de Pesquisa Científica. 7. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010.
SILVA, Flávia Carolina da; PALUDO, Karina Inês. Racismo Implícito: Um olhar para a educação infantil. 2011. Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com/documentos/14152011-19.pdf. Acesso em: 29 ago. 2012.
SISTO, Celso; Mãe África: mitos, lendas, fábulas e contos. São Paulo: Paulus, 2007.
NEVES, Pollyana Cassiano. As relações étnico-raciais na educação infantil. Disponível em: http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/CP02.pdf. Acesso em: 29 ago. 2012.


ANEXOS

Imagem disponível em:
http://www.toymagazine.com.br/images/livro_moca_bonita.jpg
Editora: ATICA 3
ISBN : 8508066392
ISBN 13: 9788508066391
Espec. : LITERATURA INFANTIL
BROCHURA
7 º Edição –2010  24 pág.





MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA
(Ana Maria Machado)
Era uma vez uma menina linda, linda.
Os olhos pareciam duas azeitonas pretas brilhantes, os cabelos enroladinhos e bem negros.
A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo da pantera negra na chuva.
Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no cabelo dela e enfeitar com laços de fita coloridas.
Ela ficava parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada do Reino do Luar.
E, havia um coelho bem branquinho, com olhos vermelhos e focinho nervoso sempre tremelicando. O coelho achava a menina a pessoa mais linda que ele tinha visto na vida.
E pensava:
- Ah, quando eu casar quero ter uma filha pretinha e linda que nem ela...
Por isso, um dia ele foi até a casa da menina e perguntou:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:­
- Ah deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela.
Ficou bem negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é o seu segredo para ser tão pretinha?
A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu tomei muito café quando era pequenina.
O coelho saiu dali e tomou tanto café que perdeu o sono e passou a noite toda fazendo xixi.
Mas não ficou nada preto.
- Menina bonita do laço de fita, qual o teu segredo para ser tão pretinha?


A menina não sabia, mas inventou: ­
- Ah, deve ser porque eu comi muita jabuticaba quando era pequenina.
O coelho saiu dali e se empanturrou de jabuticaba até ficar pesadão, sem conseguir sair do lugar. O máximo que conseguiu foi fazer muito cocozinho preto e redondo feito jabuticaba. Mas não ficou nada preto.
Então ele voltou lá na casa da menina e perguntou outra vez:
- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?
A menina não sabia e... Já ia inventando outra coisa, uma história de feijoada, quando a mãe dela que era uma mulata linda e risonha, resolveu se meter e disse:
- Artes de uma avó preta que ela tinha...
Aí o coelho, que era bobinho, mas nem tanto, viu que a mãe da menina devia estar mesmo dizendo a verdade, porque a gente se parece sempre é com os pais, os tios, os avós e até
com os parentes tortos. E se ele queria ter uma filha pretinha e linda que nem a menina, tinha era que procurar uma coelha preta para casar.
Não precisou procurar muito. Logo encontrou uma coelhinha escura como a noite, que achava aquele coelho branco uma graça.
Foram namorando, casando e tiveram uma ninhada de filhotes, que coelho quando desanda a ter filhote não para mais! Tinha coelhos de todas as cores: branco, branco malhado de preto, preto malhado de branco e até uma coelha bem pretinha.
Já se sabe, afilhada da tal menina bonita que morava na casa ao lado.
E quando a coelhinha saía de laço colorido no pescoço sempre encontrava alguém que perguntava:
- Coelha bonita do laço de fita, qual é o teu segredo para ser tão pretinha?
E ela respondia: - Conselhos da mãe da minha madrinha...
Texto disponível em:
http://contandoradehistorias.blogspot.com/2008/01/na-espera-menina-bonita-do-lao-de-fita.html


DIVERSIDADE Autora: Tatiana Belinky

 
Um é feioso,
Outro é bonito
Um é certinho
Outro, esquisito

Um é magrelo
Outro é e gordinho
Um é castanho
Outro é ruivinho

Um é tranqüilo
Outro é nervoso
Um é birrento
Outro dengoso

Um é ligeiro
Outro é mais lento
Um é branquelo
Outro sardento

Um é preguiçoso
Outro ,animado
Um é falante
Outro é calado

Um é molenga
Outro forçudo
Um é gaiato
Outro é sisudo

Um é moroso
Outro esperto
Um é fechado
Outro é aberto

Um carrancudo
Outro ,tristonho
Um divertido
Outro, enfadonho

Um é enfezado
Outro é pacato
Um é briguento
Outro é cordato


De pele clara
De pele escura
Um ,fala branda
O outro, dura

Olho redondo
Olho puxado
Nariz pontudo
Ou arrebitado

Cabelo crespo
Cabelo liso
Dente de leite
Dente de siso

Um é menino
Outro é menina
(Pode ser grande ou pequenina)

Um é bem jovem
Outro, de idade
Nada é defeito
Nem qualidade

Tudo é humano,
Bem diferente
Assim, assado todos são gente

Cada um na sua
E não faz mal
Di-ver-si-da-de
É que é legal

Vamos, venhamos
Isto é um fato:
Tudo igualzinho
Ai ,como é chato!




Livro utilizado na Roda de História


Teatro para a apresentação de fantoches
Fantoche do Coelho Branco


Fantoche da Menina Bonita

Figura do jogo Mancala ou Kallah


Figura do jogo Mancala ou Kallah e as sementes




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